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terça-feira, 26 de abril de 2016

COMPLEXO DE INFERIORIDADE: A VIDA DIANTE DO NADA


                                                                                                                              Por Djalma Andrade

No tocante ao exercício de minha profissão, tenho observado e concluído muitas questões referentes ao comportamento humano. Recentemente, cheguei à conclusão de que o complexo de inferioridade se comporta igualmente a um câncer silencioso, que vai anulando a sua vitima aos poucos, sem pressa, ao nada da vida.

Diariamente, passam por mim dezenas de pacientes. Entre um atendimento e outro, tenho notado que, na maioria dos casos, algumas queixas se repetem, dentre elas a falta de autonomia: falta de autonomia profissional, conjugal, familiar, afetiva, social, financeira e, principalmente, falta de autonomia para gerir a própria vida.

Tenho observado que tal realidade tem ligação direta com alguns complexos que se formaram no tocante à construção da história de vida, dentre eles sobressai o complexo de inferioridade. Percebo que são pessoas que têm projetos belíssimos, objetivos e sonhos, porém nunca deram um passo adiante na vida, em outras palavras, não conseguem sair do lugar. E, quando dão o primeiro passo, geralmente desistem antes do segundo. E isso alimenta, cada vez mais, o sentimento de baixa autoestima, sensação de impotência, vazio, inutilidade e apatia diante da própria vida.  É no bojo desses sentimentos que se alimenta a sensação de sujeito indigno, isto é, a pessoa passa, cada vez mais, a acreditar, piamente, que não é digna de conquistar nada, e a vida acontece desse jeito.

Mas, enfim, como se desenvolve o complexo de inferioridade? É claro que não podemos falar de uma fórmula precisa, mas tenho observado que a primeira infância se constitui como terreno fértil para germinação da questão. E explico o motivo: naturalmente, o desenvolvimento psíquico humano se dá em duas sociedades: a micro sociedade e a macro sociedade.  A micro sociedade corresponde a primeira e diria que a mais importante à formação psíquica do sujeito. É a sociedade família, onde se aprende e apreende os valores éticos e morais, os quais nos orientarão na macro sociedade, que é a sociedade que perpassa a família, englobando o social no todo.  

Infelizmente, em nossa cultura, o desenvolvimento do sujeito na primeira sociedade, isto é, no seio da família, dá-se, em muitos casos, em pé de comparação: é sempre o coleguinha que sabe se comportar, é sempre o coleguinha que tira as melhores notas na escola, resumindo, é sempre o coleguinha que vai ser alguém na vida, é sempre o outro. E é a partir dessas informações externas e familiares que a criança vai formando a sua autoimagem, e é justamente com ela que ele se apresenta a macro sociedade, relacionando-se e interpretando o mundo a partir dela.  

Geralmente, o ciclo de amizades dessas pessoas é muito empobrecido e fragmentado, sem solidez e constância, pois, como mecanismo de defesa, acabam desenvolvendo sentimento de inveja para com os amigos, o que acaba se tornando uma amizade desagradável, e o afastamento se torna inevitável. Ele costuma desenvolver o lema do coitadinho, da vítima, e o mundo sempre está contra ele, até Deus.  Além disso, quem sofre de complexo de inferioridade é muito comum que desenvolva comportamento de possessão no tocante às relações de amizade, conjugal... pois o outro que se aproxima de seus próximos é sempre visto como uma possível concorrência, ameaça, mas na realidade se trata mesmo é de insegurança.  

No complexo de inferioridade, o sujeito se enquadra no típico “carrega o mundo nas costas”. É aquele tipo prestativo em excesso, e sofre com o complexo do “sim”, isto é, diz sim para todo mundo, não consegue falar não para ninguém. A sua intenção é sempre agradar, é aí que busca seu valor. A nota sempre vem de fora, ele precisa escutar dos outros, e é por isso que não se cansa de dizer sim. Esse tipo de comportamento denota, geralmente, uma posição de submissão em relação ao outo, e é justamente aqui que se desenvolve a falta de autonomia diante desse outo e também de si, visto a necessidade da confirmação de alguém para existir como pessoa, o que não é possível.  


Nesse triste lema, a vida acaba acontecendo diante do nada, do zero afetivo e ativo, sem conquistas, nem mesmo de si. É a cristalização do sofrimento psíquico em seu grau mais elevado, de onde não tardam os sintomas depressivos e/ou algo da natureza.