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terça-feira, 8 de setembro de 2015

O SOFRIMENTO PSÍQUICO DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER

                                                                                                                                 Por Djalma Andrade

Atualmente, em parte de meu trabalho, tem sido a minha rotina avaliar e acompanhar paciente com diagnóstico de câncer. É claro que as perguntas são muitas, e as incertezas superam as certezas.  Dentre as minhas inquietações, uma pergunta sempre em latência: psicologicamente, por que determinado paciente reage diferente de outros diante do diagnóstico de neoplasia, por que o sofrimento psíquico é mais visível em uns ao passo que em outros nem sofrimento parece haver?  Ao longo do tempo e das avaliações busqueis elementos para tentar responder a tal pergunta.

Aos poucos fui entendendo que a resposta está em uma via de mão dupla: fora e dentro do paciente. Quando digo fora, refiro-me aos estigmas que norteiam o diagnóstico “câncer”, que passa pelo crivo da cultura; dentro, estou sinalizando a personalidade do indivíduo. Depois desse achado, eis que surgiu mais uma pergunta: a personalidade pode interferir, a ponto de anular a dor psíquica de um paciente com câncer?

Depois de mais um tempo de estudo e observações, conclui que não. Entendi que a personalidade do paciente tem papel importante, mas não para anular o sofrimento psicológico, e sim para definir o modo pelo qual o indivíduo vai lidar com tal realidade de dor. E você pode perguntar: não seria demais generalizar? Bem, vamos lá... Se eu estivesse falando de uma questão tão somente a partir de fatores “internos” ao paciente, diria que sim. Acontece que estou olhando também para os fatores externos ao paciente com câncer, fatores estes que todos estão expostos, vulneráveis: o principal causador de alterações emocionais e, portanto, comportamentais, não diz respeito tão somente ao diagnóstico em si, mas principalmente aos estigmas que apontam e pesam para uma mesma e única direção: sentença de morte.

Diante de tal sentença, é comprovado, até mesmo pela nossa própria evolução genética, que todo e qualquer organismo, inconscientemente ou não, reage. No bojo de tal reação, torna-se inevitável, no âmbito psicológico, a vivência de sentimentos de medo, ansiedade, impotência, insegurança, tristeza, angústia, às vezes raiva, culpa, solidão, vazio, negação, estresse aumentado e/ou algo da natureza.  

Tais sentimentos se reverberam na vida psíquica do paciente com câncer de forma direta ou indireta.

 Quando diretamente, os sintomas são visíveis, e o "desespero" do paciente é patente; indiretamente, o paciente reage por meio de mecanismo de defesa, que vai depender da personalidade e meio cultural do indivíduo. São muitos comuns mecanismos de defesas tais como: intensificação da crença religiosa, positivismo, esperança aumentada, supervalorização da vida, alto astral elevado, motivação para dar e vender... Inicialmente, é assim que essas pessoas chegam para mim, e realmente contagiam o ambiente; mas na hora da pergunta mágica que costumo iniciar as sessões: “o que você traz”?, os mecanismos desabam, e a dor está lá, ancorada nos estigmas, em águas sentenciosas, a morte. O que não passa de um estigma socialmente construído, pois é comprovado, cientificamente, que mais de 60% dos casos de câncer, quando diagnosticado precocemente, é tratado e curado.  

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